Ano 15
23 de abril de 2008
Número 4

CHUVAS INTENSAS NO NORDESTE E ESCASSAS NO SUL DO BRASIL REFLETEM A ATUAÇÃO DO FENÔMENO LA NIÑA NO OCEANO PACÍFICO
As chuvas intensas que ocorreram no final de março nos setores central e norte da Região Nordeste interromperam a estiagem que predominava em várias localidades até o mês anterior. Por outro lado, o cenário ainda é de estiagem em grande parte da Região Sul do Brasil.

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Sumário
A atuação conjunta de vários sistemas meteorológicos contribuiu para a ocorrência de chuvas acima da média histórica em grande parte da Região Nordeste do Brasil, especialmente no Maranhão, Piauí, sul do Ceará e oeste da Paraíba, onde este mês de março foi considerado um dos mais chuvosos dos últimos 47 anos. Ressalta-se, porém, a situação de chuvas abaixo da média histórica que ainda persiste em algumas áreas no leste da Bahia, em particular na região do recôncavo baiano. Nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, as chuvas estiveram associadas principalmente a atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) principalmente durante a primeira quinzena de março. Na Região Norte, as chuvas foram mais acentuadas no norte do Amapá e nos setores central e norte do Pará e Tocantins, onde os totais mensais excederam a climatologia mensal.

Os campos oceânicos e atmosféricos de escala global destacaram a persistência de condições associadas ao fenômeno La Niña sobre os setores central e oeste do Pacífico Equatorial, onde predominaram anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e alísios mais intensos que a climatologia. Contudo, destacou-se o relaxamento dos alísios e a expansão da área de anomalias positivas de TSM sobre o Pacífico Leste, sinalizando o enfraquecimento gradual deste episódio frio de fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS). No Oceano Atlântico, destacou-se a expansão da área de anomalias positivas de TSM ao longo do equador e na porção oriental desta bacia, o que configurou uma situação favorável ao posicionamento da ZCIT ao sul da sua climatologia no final deste mês. Ressaltou-se, ainda, o sinal da Oscilação Intrasazonal Madden-Julian (OMJ), favorável à ocorrência de chuvas acima da média sobre o Nordeste do Brasil entre o final de março e início de abril.

A previsão climática da precipitação para o trimestre maio, junho e julho de 2008 é de persistência de chuvas de em torno a acima da normal climatológica em parte do setor norte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Na maior parte das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, a previsão é de chuvas em torno da normal climatológica. Para a Região Sul, a previsão é de chuvas entre normal a abaixo da média histórica. As temperaturas estão sendo previstas próximas à normal climatológica, excetuando-se a Região Centro-Oeste e parte da Região Sudeste, onde as temperaturas podem exceder a climatologia.
1- Sistemas Meteorológicos e Ocorrências Significativas no Brasil em Março de 2008
No início de março, destacou-se a atuação de um ciclone que se configurou sobre o Uruguai e Região Sul do Brasil. Este sistema de baixa pressão organizou-se na baixa e alta troposfera, causando vento forte, descargas elétricas e granizo especialmente em cidades do litoral de Santa Catarina. Na cidade de Balneário Camboriu - SC, registrou-se 93 mm de chuva no dia 01. Ainda na primeira quinzena, observaram-se dois episódios de ZCAS que proporcionaram chuvas acima da média em várias localidades das Regiões Sudeste e Centro-Oeste. A atuação da Zona de Convergência Intertropical sobre a faixa equatorial do Atlântico e a formação de cavados em médios e altos níveis sobre o Nordeste do Brasil, particularmente no final de março, foram importantes mecanismos responsáveis pela ocorrência de elevados totais de precipitação que causaram inundações, deslizamentos e perdas humanas e materiais em vários municípios das Regiões Norte e Nordeste. Neste sentido, destacaram-se os totais registrados em Soure - PA (116 mm), Lençóis - BA (134 mm), ambos no dia 29, e em Altamira - PA (130 mm), no dia 30. Entre os dias 30 e 31, as fortes chuvas deixaram em estado de atenção localidades do Agreste da Paraíba e região metropolitana de Recife, onde, em algumas cidades, os acumulados de precipitação excederam 100 mm.
2- Avaliação das Queimadas em Abril de 2008 e Tendência para o trimestre Maio, Junho e Julho (MJJ)
Detectaram-se cerca de 480 focos de queimadas no País, pelo satélite NOAA-15. Este valor ficou 50% acima do observado em fevereiro passado. Em comparação com o mesmo período de 2007, o número de focos diminuiu 80% em decorrência do aumento das chuvas em parte da Região Norte e no Nordeste, destacando-se Roraima (150 focos) e Bahia (50 focos). Verificaram-se também poucas ocorrências no Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte e Alagoas. Nos demais países da America do Sul, houve redução de aproximadamente 80%.

O trimestre MJJ/2008 caracterizar-se-á pela ocorrência de poucas áreas críticas de queimadas no País, porém maior que no trimestre anterior. Esta situação deve-se ao período chuvoso que ainda acontece nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste e no sul da Amazônia Legal. No norte da Região Norte, especialmente no Pará e Amapá, a previsão de chuvas acima da média diminui o risco de fogo. Climatologicamente, as ocorrências iniciais de focos e os maiores riscos de queimadas ocorrem no mês de julho, abrangendo os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e na Região Sudeste, especialmente em Minas Gerais e São Paulo.
Figura 1 - Focos de queimadas detectados em março de 2008, pelo satélite NOAA-15.
3- Previsão Climática para o Trimestre Maio, Junho e Julho (MJJ)
A previsão de chuva e temperatura para maio, junho e julho de 2008 é apresentada na tabela e figura abaixo:
Região
Previsão
Figura 2 - Previsão probabilística (em tercis) de consenso do total de chuvas no trimestre maio, junho e julho de 2008.
Chuva - acima da normal climatológica no Amapá e norte do Pará. Nas demais áreas, a previsão é de normalidade das chuvas.
Temperatura - normal na maior parte da Região.
Chuva - acima da normal na faixa que vai do norte do Maranhão ao nordeste da Bahia. Nas demais áreas, a previsão é de chuvas próximas à normal.
Temperatura - normal na maior parte da Região.
Chuva - próxima à normal em praticamente toda a Região. No sul do Mato Grosso do Sul, as chuvas podem ocorrer abaixo da normal.

Temperatura - normal a acima da normal na maior parte da Região.
Chuva - próxima à normal em toda a Região, com exceção do setor central e sul do Estado de São Paulo, onde a previsão é de chuvas abaixo da média.
Temperatura - normal a acima da normal na maior parte da Região.
Chuva - abaixo da normal climatológica em toda Região.
Temperatura - normal na maior parte da Região.